segunda-feira, 30 de março de 2015

Silêncio, artigo de Aécio Neves no jornal Folha de São Paulo


Silêncio, artigo de Aécio Neves no jornal Folha de São Paulo



Na última semana estive em Lima, no Peru, honrado pelo convite de Mario Vargas Llosa –Prêmio Nobel de literatura e presidente da Fundação Internacional para a Liberdade– para discutir a realidade latino-americana.

No amplo debate sobre os desafios da região, onde temas como corrupção e intolerância política ocuparam muitas das conversas paralelas, uma questão se impôs. A preocupação dos participantes com os rumos de governos que limitam as liberdades de opinião e de imprensa e que usam a violência contra opositores e contra manifestações legítimas da população, como ocorre, em especial, na Venezuela.

Foi importante ouvir os relatos das esposas dos líderes oposicionistas venezuelanos sobre a violação de direitos humanos pelo governo daquele país. Mitzy Ledezma, mulher do prefeito de Caracas, Antônio Ledezma, preso em fevereiro, e Lílian López, mulher do ativista Leopoldo López, preso há mais de um ano, deram um tom de emoção e de urgência ao encontro em busca por solidariedade dos democratas de outros países.

Anoto aqui a dura cobrança feita por Mario Vargas Llosa pelo engajamento dos governos dos países latino-americanos em defesa da democracia na região e da liberdade dos ativistas presos. Como bem disse Lílian, trata-se de uma luta moral por direitos que estão sendo violados constantemente. Nesse campo temos cometido uma grave omissão, tomados por um silêncio obsequioso e uma estranha solidariedade política.

No que diz respeito ao Brasil é preciso reconhecer que continua inexistindo uma política externa eficiente do ponto de vista comercial e corajosa no campo político, capaz de fazer valer nossas posições. A natural liderança do nosso país no continente se apequenou. A defesa de valores humanitários universais cedeu lugar à conveniência de aliados alinhados ideologicamente.

É sempre danoso quando governos priorizam o discurso, a propaganda e projetos de poder. Quem paga a fatura é a população. Em especial, os mais pobres, aqueles em cujo nome alguns governos dizem agir para tentarem se colocar acima do bem e do mal.

O seminário em Lima teve o sentido político de revelar que, diante da cúmplice inércia desses governos, lideranças de diversos países estão se mobilizando em defesa das liberdades e dos valores democráticos. Esse, inclusive, é o significado do convite feito pelo ex-primeiro ministro espanhol Felipe González e aceito pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para participar da banca de defesa de Leopoldo López.

Gestos como esses simbolizam a nossa intocada crença na liberdade, na democracia e na Justiça. Que buscamos para nós e desejamos para todos os povos.


Aécio Neves

Folha de São Paulo

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